terça-feira, 12 de outubro de 2010

Alcoólicos Anônimos - Uma experiência de grupo II


            Esta observação, que será brevemente descrita abaixo, foi realizada no dia 04 de outubro de 2010, em um grupo de Alcoólicos Anônimos, das 19h e 30 min às 21h e 30 min. As reuniões, são abertas e organizadas de modo que cada participante tem direito a usar a palavra por 10 minutos, se assim o decidir, falando sobre suas experiências ou quaisquer outros assuntos que deseje abordar.
            Antes da reunião propriamente dita ser iniciada, um dos alcoólicos, o qual já freqüenta o grupo e está sem beber a muitos anos, explicou-nos alguns aspectos básicos do funcionamento e da dinâmica dos grupos de Alcoólicos Anônimos. Nesse momento, ficamos sabendo, dentre outras coisas, que o grupo é aberto tanto para homens, quanto para mulheres. Além disso, esse senhor explicou-nos que, apesar deles fazerem orações, o grupo não é ligado a nenhuma religião ou seita, mas que existe um envolvimento espiritual muito grande, o qual está sempre presente nas reuniões e ações dos alcoólicos que estão em tratamento. Por fim, ele comentou que uma pessoa, uma vez alcoólica, nunca deixará de ser, pois o alcoolismo é uma doença, a qual, até então, não possui cura, podendo apenas ser controlada.
            A reunião observada iniciou com um preâmbulo, falando sobre alguns princípios do A.A. Em seguida, todos fizeram uma oração, que é afixada na parede, pedindo pela sua sobriedade. Foi possível perceber que essa oração realmente não se remete a nenhuma religião ou seita específica, sendo apenas, como havia nos falado o senhor, uma forma de espiritualidade, a qual nós – acadêmicas – acreditamos ser uma maneira de substituir o “conforto” encontrado no álcool pela “paz de espírito”. Após a oração, foi lida a reflexão do dia, acerca da “poda dos excessos”, onde alguns comentaram sobre a poda que realizaram e ainda deveriam realizar em si mesmos ao longo de sua recuperação.
            Feito isto, é aberto o espaço para que os membros tomem a palavra. Os discursos abordam diversos temas: os 12 passos e a dificuldade de pô-los em prática; os 12 princípios, as 12 tradições e a dificuldade de segui-los; o seu tempo de abstinência; histórias de vida, especialmente sobre o início do vício e suas conseqüências; sua relação com o álcool e outras drogas; além da ajuda que lhes foi prestada pelo grupo ao longo do tempo de participação.
            É possível perceber, nestas falas, a importância do apoio prestado pelo grupo, e o quanto o compartilhamento destas experiências é capaz de auxiliar tanto aquele que fala quanto os que a escutam. Chamou-nos atenção que no grupo observado, após o término do depoimento de um dos alcoólicos, os ouvintes não fazem nenhuma intervenção no sentido de perguntar como ele se sentiu ou sintetizar sua fala, apenas é desejado mais 24 horas de sobriedade. Neste sentido, é possível perceber que o simples fato de desabafar e identificar pessoas que estão na mesma situação ou em uma situação semelhante, lhes causa um grande alívio e dá força para que eles não continuem bebendo. Assim, tanto as falas compartilhadas quanto os 12 passos ou outras reflexões são usados pelos membros como recursos para resistir às recaídas.
            Diante dos depoimentos, notou-se ainda a dificuldade que os alcoólicos enfrentam para perceberem com clareza e, conseqüentemente, “se conformarem” que eles não podem/conseguem beber nem do modo chamado “socialmente”. Além disso, também ficou evidente a importância que possui as 24 horas sem beber, podendo esta ser considerada um filosofia de pensamento que está fortemente arraigada na vida dos membros do A.A. De acordo com os depoimentos, o dia de amanhã não importa para os alcoólicos; o que realmente importa é que eles conseguiram terminar mais um dia “sem colocar nem uma gota de álcool na boca”.
            Também foi possível identificar que, enquanto os membros do grupo relatavam suas experiências e vivências, eles, freqüentemente, dirigiam o olhar para nós, estudantes. Provavelmente isso tenha acontecido por dois motivos: primeiramente porque nós não estamos na mesma condição que eles; dessa forma, eles queriam nos alertar sobre os riscos e perigos envolvidos ao “entrar nessa vida”, isto é, tornar-se um alcoólico. Soma-se a isso o fato de sermos estudantes de psicologia, sendo, possivelmente, depositada em nós a expectativa de entendimento dos problemáticas presentes na vida dos integrantes dos A.A.
            Após este momento, que compreende também um intervalo de 10 minutos, onde é passada uma sacola para contribuições (apenas para os membros), é feito o encerramento. Neste, é novamente feita a oração do início do encontro e é comentado, pelo co-coordenador do grupo, a importância do anonimato, que é uma das bases de sustentação para o A.A. Além disso, é feito o convite para que quem ainda não seja membro e deseje participar do grupo converse com coordenador, e são dados alguns avisos gerais.
            É extremamente importante ressaltar, por fim, que todos os participantes do A.A. nos recepcionaram e acolheram muito bem. Isso ficou especialmente visível, quando ao final de cada fala, quando eles desejam para si e para os outros membros mais 24 horas de sobriedade, normalmente, também desejavam saúde para nós. Da mesma forma, eles também deixaram claro acreditar na significância da Psicologia para ajudar no tratamento dos alcoólicos, afirmando que ao termos a experiência de freqüentar um encontro desse tipo, com certeza, seremos profissionais mais capacitadas para desempenhar um bom papel diante das demandas de toxicômanos. 

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