terça-feira, 12 de outubro de 2010

Alcoólicos Anônimos - Uma experiência de grupo I

            Este texto está baseado nas observações feitas pelas estudantes de psicologia que participaram das reuniões, dos Alcoólicos Anônimos, dos dias 24 de setembro e 1 de outubro. É importante ressaltar que desde a procura pelo grupo até a primeira reunião, várias expectativas foram criadas. Esperávamos encontrar um grupo composto por pessoas com uma média de idade mais baixa (30 a 40 anos), e de uma classe social mais homogênea. Posteriormente, este conteúdo esteve presente também na fala dos participantes ao expressarem suas expectativas em relação ao AA se referindo a este como um grupo onde encontrariam mendigos, maltrapilhos e mal cheirosos.
            No entanto, o que foi observado diferiu muito deste nosso pensamento inicial em relação aos grupos de AA e a problemática do álcool; encontrou-se um grupo de pessoas bem misto em relação a idade e a classe social. Outro elemento que apareceu como surpreendente foi o fato de os usuários serem cruzados – usuários concomitantes de drogas lícitas e ilícitas. Além disso, o alcoolismo se mostrou como sendo uma doença devastadora e que não tem cura; transformando a idéia que a mídia nos passa de que na vida noturna o jovem deve beber para se integrar e se divertir de verdade.
            Os depoimentos dos participantes do grupo nos sensibilizaram já que nos fizeram perceber a dimensão do alcoolismo. Eles possuem esta perspectiva de doença e fica claro ao se denominarem como doentes, alcoólatras e bêbados. Também utilizam metáforas para se relacionar e se identificar com sua próprio vício no álcool, colocam o como uma cobra que suga aos poucos sua presa ao contrário de um cachorro que ataca e destrói em pedaços de uma vez só; um monstro que eles tem que lidar. Quando em fase de recuperação se consideram como uma borboleta saindo do casulo para criar asas e voar.
            Para lidar, procuram se convencer todos os dias de que o álcool “acaba com a vida deles”; e o grupo de AA com a escuta possui papel fundamental nesta posição. Pois, é no grupo que eles buscam força através das experiências compartilhadas que incluem: a perda do emprego, abandono da família, outras doenças (depressão, hipertensão, infarto, etc), intenção de suicídio, submissão a condições precárias de vida – “até embaixo da ponte eu já morei”. Uma fala marcante que ilustra este contexto é a de um participante que diz que quem está no vício passa por três C`s: clínica, cadeia e cemitério. Os dois primeiros ele já tinha passado e o terceiro ele não queria chegar tão cedo.
            O apoio do grupo também está na forma como se referem um ao outro utilizando o termo “companheiro”, o que caracteriza um objetivo em comum e a união na luta contra o álcool. O encorajamento dado pelos companheiros ao desejar mais 24 horas de sobriedade também revela este apoio do grupo, já que sua meta é evitar o primeiro gole e a sua batalha é diária, não permitindo o estabelecimento de objetivos a longo prazo. Dessa forma, percebemos que o encorajamento junto com a divisão das experiências compõem o que é terapêutico nos encontros e caracterizam o AA como um grupo de auto ajuda.
            A partir de nossa leitura da psicanálise, o problema do alcoólatra não é com o álcool em si, mas como o sujeito se relaciona com a substância. Já que ele abusa do tóxico para lidar com o sofrimento inerente ao ser humano (pulsão de morte), o que constitui uma medida paliativa dentre as diversas possíveis quando se está inserido na civilização. A medida que reconhecem o álcool como uma doença, buscam outras medidas paliativas como a arte e a religião – “costuma ir na catedral diocesana e ficar sentado nos bancos, olhando para cima e observando a arte que foi pintada por um pintor muito famoso. Diz que também é artista e que este ano fez a capa de um livro que foi lançado na feira do livro.”
            No entanto, esta substituição de medidas paliativas por vezes não se faz eficiente, e acontecem as recaídas visto que uma das barreiras pra superar o vício é que o álcool é uma droga “barata, que pega fácil e que se encontra em qualquer esquina”. Outro obstáculo é que a sociedade os aponta como fracos perante o álcool já que precisam do anonimato, isto se faz presente na fala dos participantes e carrega sofrimento.
            Assim a participação social é fundamental na problemática do alcoolismo já que ela se encontra no limiar do tratamento, podendo ser veículo de incentivo ou de recaída. Em relação ao incentivo é quando oferece grupos como o A.A., fazendas terapêuticas, programas de reabilitação social, CAPS, ações sociais em ONG`s. Mas também se classifica como meio de recaídas ao passo que o usuário de álcool sofre preconceitos e discriminação, e este é uma droga de fácil acesso que está presente na maior partes do eventos sociais sendo apresentada como via de socialização.
            Portanto este trabalho foi uma vivência muito válida tanto para nossa formação profissional quanto pessoal, já que foi possível relacionar a teoria vista em sala de aula com o que efetivamente ocorre na prática. Além da experiência em grupo que nos foi proporcionada, também foi possível o despertar do interesse pela toxicomania. Por fim, foi promovida a reflexão a cerca desta realidade que nos é tão próxima, no entanto a considerávamos distante. Além do mais, proporcionou uma nova visão sobre o alcoolismo e o alcoólatra.

Um comentário:

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